No dia 08 de outubro de 2019 nasceu a minha filha Júlia, com 39 semanas de gestação, 48 cm e 3,380 Kg, às 21h25 da noite. Tive uma gestação tranquila e saudável. Eu e meu marido planejamos essa gravidez e vivíamos um clima de muita felicidade e romance. Estávamos conectados no nosso sonho de ter uma filha. Meu marido estava muito carinhoso e cuidadoso comigo. Estávamos muito felizes e harmoniosos, até resolvermos iniciar a ampliação da nossa casa.
Passei por algumas médicas obstetras até definir a melhor opção. Fui em busca de conhecimento sobre parto normal, humanizado, cesária e amamentação. Não quis trancar meu semestre na universidade e também não quis parar de trabalhar. Eu queria continuar as minhas atividades até o dia do nascimento da minha filha.
No entanto, já no final da gestação, quando eu estava com 38 semanas, decidi pausar minhas atividades, tanto profissionais quanto acadêmicas. Estava me sentido pesada, sem fôlego para caminhar, dormindo mal, porque levantava muitas vezes para ir ao banheiro durante a noite. Minhas articulações próximas ao quadril doíam para dormir e pareciam deslocar durante a noite. Nos dias quentes eu inchava bastante os pés, tornozelos e mãos. Passei a evitar usar transporte público. Não podia mais dirigir, porque a barriga encostava no volante. Passei a depender de taxi, carros de aplicativos ou do meu marido para me locomover pela cidade. Caminhar era um grande esforço e temia que minha bolsa rompesse antes de iniciar as contrações.
Além disso, passei a ter problemas intestinais, que não se resolvia, apenas piorava. Avisei a minha médica. Ela me orientou a me hidratar bastante e comer coisas leves. Passei a comer maça, bolacha água e sal, gelatina, arroz, frango, batata inglesa, isto é, passei a me alimentar mal. Não sabia se esse problema era de fundo emocional ou se era a anunciação do meu parto, ou ainda se eu estava realmente com algum problema como alguma virose.
Por que fundo emocional? Porque o parto se aproximava. Minha cabeça estava cheia de minhocas e histórias sobre sofrimento e problemas em partos normais, que resolveram me contar nas últimas semanas de gestação. Tentaram me colocar medo em relação ao parto normal que eu tanto queria vivenciar. Apesar de ter consciência do processo, fui bastante influenciada pelos relatos, pois adivinham de pessoas que eu amo.
Outro fator de fundo emocional que me incomodou bastante foi a situação caótica que a minha casa se encontrava. Pois resolvemos ampliar a casa durante a gestação para liberar um quarto para a minha filha Júlia. No entanto, nos atrasamos com a obra, fatores como falta de planejamento, inexperiência e o clima, no caso as chuvas, contribuíram, isto é, foram as causas do atraso.
O tempo corria mais que depressa e a obra se arrastava. O pó de cimento e rejunte, os móveis fora do lugar, movimento dentro de casa, problemas financeiros, tudo isso me horrorizava. Eu pensava: – “Como que a minha filha vai nascer nesse caos?”. Não tinha um espaço para organizar o seu berço, foi desesperador.
O tempo não permitia organizar tudo como eu gostaria, mas estipulamos o que era possível e organizamos o espacinho da Júlia dentro do meu quarto, higienizamos a casa, reposicionamos móveis e deixamos para o futuro o que faltara na ampliação da casa. Limpei a mente, retomei meus estudos sobre parto. Motivei-me. Quando a paz voltou para o nosso lar e mentes, pedi afastamento da universidade para descansar. Isso foi dia 07 de outubro.
No dia seguinte, dia 08 de outubro de 2019, um dia lindo de primavera, com sol e temperatura agradável, a Júlia decidiu nascer e meu corpo entrou em trabalho de parto.
Naquele dia eu havia passado uma noite mal dormida, levantando cerca de quatro vezes durante a noite. Quando já era 4h da madrugada, senti o que achei que eram cólicas muito intensas e me assustei. Pensei que era decorrência do problema intestinal. Mas às 06h da manhã tive um sangramento. Meu marido estava em casa e acompanhou todo o processo. Pedi a ele para avisar a médica. Ela nos deu duas opções: ir para a maternidade ou ir até o consultório por volta das 8h. Decidimos ir ao consultório, pois poderia ser alarme falso.
O sangramento, que era um sangue rosinha, se repetiu algumas vezes durante a manhã até a hora de ir à médica. Já no consultório, a médica me examinou, constatou que eu estava realmente sentindo as contrações e me orientou a ir para casa e aguardar o aumento das contrações. Depois eu deveria me deslocar diretamente para a maternidade no momento em que observasse 3 contrações de 40 segundos no tempo de 10 min. Disse que minha baby estava numa posição boa para o parto, com as costas no lugar certo. Eu estava com 2,5 ou 3 centímetros de dilatação. Que isso era muito bom.
Eu tinha um ultrassom agendado para às 10h. A médica disse que eu não precisava mais fazê-lo por isso eu cancelei o exame.
As contrações aconteciam espaçadamente. Eram bastante doloridas, mas suportáveis. Eram como cólicas intestinais numa temperatura quente, uma dor que vinha com um calor local. Ainda pela manhã, no trajeto até a médica, as contrações se faziam presentes e eu precisava parar de caminhar e “curtir” a dor.
Em casa o sol iluminava o meu quarto. Eu me sentia bem, tranquila e feliz, a Júlia tinha escolhido um dia lindo para nascer. Um dia de primavera, depois de tanta chuva. Eu fiquei descalça no tapete junto a bola suíça, ao lado da cama. Minha tarde se resumiu em sentar na bola de pilates, deitar na cama com a almofada para gestante, ir para o chuveiro, tudo “curtindo” as contrações. Resolvi avisar meus pais enquanto eu conseguia. Enviei uma mensagem para o meu pai: ” a Júlia nasce hoje”. Avisei a minha mãe, que saiu desesperada para a Rodoviária de POA para vir à Santa Maria.
Naquele dia, não consegui tomar café da manhã nem almoçar. O Ricardo ficou comigo o dia inteiro. Ele me levava água, sucos, lanches, almoço. Colocava a bolsa térmica nas minhas costas quando eu tinha contrações. Trouxe a bola de pilates para eu usar no quarto. E, principalmente, controlava o tempo das minhas contrações.
Depois de passar a tarde em casa, “curtindo” as contrações, por volta das 17h elas aumentaram, eram menos espaçadas e mais doloridas. O chuveiro não era mais tão eficaz, mas fora dele era ainda pior. Já estava próximo ao que a médica tinha orientado: 3 contrações de 40 segundos no tempo de 10 minutos. Eu já estava cansada e queria ir para a maternidade. Nos arrumamos, o bebê conforto e as malas da maternidade já estavam no carro. Saímos 17h30. Estava começando o horário de pico da cidade. Por pouco não ficamos presos no trânsito. A minha barriga era enorme, eu estava inchada e o balanço do carro não era nada agradável, principalmente, durante as contrações que ocorriam uma atrás da outra.
O Ricardo me levou até a porta do pronto socorro e foi estacionar o carro. Eu só carregava a minha bolsa e já estava com a carteirinha do plano de saúde em mãos. Não tinha filas, eu caminhei em direção às atendentes. Não conseguia falar, as contrações não paravam. Fizeram um cadastro rápido e queriam saber quem era a minha médica e quem era o meu acompanhante. Logo o Ricardo chegou trazendo apenas uma das três malas (que o hospital orientou levar: uma para o bebê, outra para a mãe e outra para o acompanhante) e me levou de cadeira de rodas até a maternidade. Lá, me encaminharam para uma sala de triagem, com três enfermeiras que repetiam perguntas e eu não conseguia responder. Fizeram teste rápido de HIV e outros que não lembro. Assinei um documento que não li. Entreguei minha carteira de gestante. O Ricardo precisou ir fazer a minha internação e buscar as outras duas malas, o que demorou uns 40 min. Nesse tempo a médica chegou e me examinou. Disse que eu estava com 9,5 cm de dilatação. Elogiou-me, disse que eu estava muito bem.
Para aguentar as dores das contrações eu tentei fazer a respiração da vela, ainda em casa, mas não deu muito certo. Foi então que escolhi outra forma respiração, resolvi vibrar os lábios para expirar. Isso funcionou muito bem. Cada vez que vinha uma contração eu vibrava os lábios até passar. Foi o que me fez suportar as contrações até às 21h da noite.
Falei para a médica que queria a analgesia peridural e que não queria a episiotomia, só em necessidade extrema. Ela concordou. A médica foi se trocar. Eu só queria ser atendida. Não aguentava mais. Eu não saia nunca daquela sala de triagem. Não lembro onde eu troquei de roupa, acho que foi antes de passar para a sala de parto. Ao me deslocar para a sala de parto, a enfermeira que me acompanhou era uma moça bem jovem, que não teve paciência de aguardar as minhas contrações passarem para eu caminhar. Ela me obrigou a andar enquanto sentia contrações e falou em tom grosseiro que eu deveria acompanhá-la. Esse foi o único inconveniente do tratamento que tive no hospital, pois as outras enfermeiras foram ótimas.
Ao chegar na sala de parto, fiquei sozinha lá por alguns minutos, não sei quanto tempo foi exatamente, mas pareceu muito tempo. Sentei na bola de pilates. O pediatra passou na sala e perguntou o nome do bebê. Eu consegui falar baixinho, não sei nem como ele escutou, porque eu estava no meio de uma contração.
Ao retornar, a médica começou a fazer uma massagem abaixo das minhas costas, no quadril, quando vinham as contrações. Aquela massagem era maravilhosa. A dor passava completamente. Era um alívio muito bom.
O Ricardo chegou paramentado na sala de parto. Eu estava sentada na bola de pilates com a médica nas minhas costas. Comecei a ficar cansada daquela posição, porque não tinha muito apoio para as pernas durante as contrações. A cama que eu usava de apoio começou a se mover a cada contração, era instável e eu não me sentia segura. Resolvi procurar outro local. Encontrei o “cavalinho”, uma cadeira própria para parto, no entanto, era muito desproporcional ao meu tamanho e não deu certo. Foi então que encontrei uma barra na parede do banheiro e resolvi ficar de cócoras lá. Era a melhor posição, mas meus joelhos já não aguentavam mais. A médica pediu para me examinar e para isso eu teria que deitar na cama. Isso aconteceu inúmeras vezes e me deslocar era muito desagradável. Ela ouvia os batimentos cardíacos da Júlia pra ver se ela não estava em sofrimento. Estava tudo bem. A médica me elogiava, estava tudo certo para a Júlia nascer de parto normal.
Eu nem vi o tempo passar. Minha bolsa não tinha rompido ainda, já era noite. A médica perguntou se poderia rompê-la e disse que isso aceleraria o processo. Eu concordei, pois não aguentava mais. A médica disse que não doeria. Realmente não doeu o rompimento, mas a contração que veio na sequência foi fulminante. O líquido da bolsa não saiu totalmente, foi saindo aos poucos conforme eu me mexia e o tampão saiu também. O tampão era como sangue coagulado.
A médica pediu pra eu começar a fazer força. Eu estava aguardando a vontade de fazer força, porque, conforme o que estudei, seria natural eu querer fazer força no período expulsivo do trabalho de parto. Mas em nenhum momento eu senti essa vontade. Eu fiz força algumas vezes por pedido da médica, mas aguardava que a vontade viesse naturalmente, sem forçar.
Eu já estava cansada. Era muito difícil me mover e trocar de posições. Resolvi ficar na cama que a médica me examinava, para não me deslocar mais. Fiquei de quatro na maca. Não encontrava posição. A médica sugeriu me medicar com Buscopan na veia para eu relaxar a musculatura pélvica. Ela disse que minha baby não descia, que relaxar essa musculatura poderia ajudar. Perguntou se eu já havia usado, eu disse que sim que não teria problema.
Quando a enfermeira veio aplicar a dose de Buscopan, avisou-me que poderia provocar palpitação. E foi o que aconteceu, com metade da dose tive muita palpitação e a médica pediu para encerrar a aplicação.
Minhas contrações foram reduzindo e eu comecei a descansar mais tempo entre as contrações. Mas elas eram mais intensas. Pedi a analgesia. A médica disse que se eu tomasse a analgesia, levaria cerca de 40 min para as contrações voltarem, que ela achava melhor eu ir para a cesárea, porque a baby não descia e eu tive um sangramento que a preocupou. Eu aceitei. Não aguentava mais e fiquei preocupada com o tal sangramento, queria que minha baby nascesse saudável.
Demorou cerca de meia hora para a equipe se preparar para a realização da minha cesárea. Às 21h eu estava na sala de cesarianas. Uma equipe de mulheres, desde a anestesista até a instrumentadora realizaram a cirurgia junto com a minha médica. Foram muito carinhosas.
A anestesista, uma jovem moça, explicou que a anestesia raquiana era a melhor opção. Perguntou se eu tinha alergia a alguma medicação. Preparou-se e aguardou passar minhas contrações para fazer a aplicação na coluna. Para receber a anestesia precisei ficar sentada e curvada para frente na maca, como uma letra “C”, mas a barriga atrapalhava um pouco para fazer essa postura.
Uma enfermeira me explicava o que aconteceria comigo junto da anestesista. Explicaram que poderia ter a sensação de falta de ar e que eu sentiria alguns balanços e puxões na barriga, mas que não sentiria dor. Não senti falta de ar, mas senti os balanços durante o processo da cesárea.
Um dos motivos que eu queria evitar uma cesárea era justamente a anestesia e quando passei a sentir as pernas formigarem e ficarem pesadas, lembrei desse medo. Achei que seria uma sensação terrível não sentir as pernas. Foi estranho, mas não foi terrível. O mais estranho é perceber que estão controlando seus movimentos, quando abriam e fechavam as minhas pernas. Colocaram uma sonda em mim depois que a anestesia fez efeito.
Usaram um bisturi elétrico, por isso que eu não poderia usar nenhuma joia, nenhum metal no corpo. Acabei perdendo um brinco nisso.
A Júlia nasceu às 21h25 de uma cesariana. A partir da decisão de ir para a mesa de cirurgia, o nascimento da Júlia foi muito rápido. Depois retiraram a minha placenta e me costuraram. Essa segunda etapa foi a mais demorada pela minha percepção, pois não estava controlando o tempo.
A Júlia nasceu toda enrolada no cordão umbilical, a médica disse que Júlia estava presa enrolada no cordão e por isso que não descia. Além disso, estava com a face voltada para baixo, em vez da parte superior do crânio, uma posição que dificultaria muito o parto.
Júlia nasceu e não chorou, abriu os olhos e esperaram ela chorar. Estávamos escutando a seleção de músicas da gestação, tocava a Bachiana nº5 de Villa Lobos, depois tocou Ave Maria de Bach/Charles Gounod ambas as verões para para flauta transversal e violão. Ainda nas mãos da médica, Júlia fez xixi.
Encostaram minha filha no meu rosto. Foi muito rápido. Ela estava envolvida em vérnix que removeram parcialmente ao enxugá-la. Eu fiquei um pouco confusa pelo efeito da anestesia e pelo cansaço. Júlia chorou e foi levada pelo pediatra para uma sala ao lado. O Ricardo a acompanhou. No trajeto, a Júlia girou a cabecinha e os olhos para ver o mundo ao seu redor e fez cocô no pediatra. Examinaram-na e aspiraram as vias aéreas e o estômago, por precaução, pois poderia ter engolido o mecônio. Também usaram um colírio devido a tentativa de parto normal.
O pediatra disse que a cesariana foi acertada, conforme ele a Júlia nasceu na hora certa, porque fez cocô ao nascer. Falou que meu parto valeu como parto normal e trouxe todos os benefícios para o bebê.
As enfermeiras e o pediatra fizeram o favor de tirar fotos do momento, sem pedirmos, o hospital não permitia fotógrafos. Eu havia combinado com o Ricardo para ele fotografar, mas esqueceu totalmente. Enquanto Júlia era examinada pelo pediatra, eu estava no processo da cesárea. Perguntaram-me se eu gostaria de ver a minha placenta. Eu quis vê-la. Era linda e grande, muito viva, pena que não fotografei e nem pude aproveitá-la para nada. Hoje me questiono: o que será que fizeram com a minha placenta? Que fim dão às placentas nos hospitais?
Quando o pediatra entregou a Júlia para o Ricardo, dizendo que estava pronta, ele a levou imediatamente para mim. Ricardo avisou as enfermeiras que trouxe a Júlia para eu amamentá-la. Prontamente, as enfermeiras abriram minhas vestias e me ajudaram a colocá-la no peito.
Esse foi o momento mais lindo. A Júlia veio cheirando, me cheirando com a boquinha aberta, colocando a linguinha pra fora, muito fofa. Ela queria amamentar. Coloquei-a no peito, pegou imediatamente e começou a sugar com intensidade. Foi muito lindo. Ela era muito linda. A pele dela era muito macia, muito cheirosa e delicada. Eu me apaixonei pela minha filha naquele momento. Sou muito grata ao Ricardo por ter proporcionado esse momento.
Depois a Júlia foi conhecer a vovó materna, que estava nervosa aguardando notícias, vindo direto de Porto Alegre para a maternidade em Santa Maria.
Ainda sobre a cesárea, a sensação que tive foi que não terminavam de me costurar nunca. Até perguntei se tinha algum problema. A médica avisou a anestesista que precisaria de mais tempo. Isso me deixou nervosa, mas depois com a presença da Júlia amamentando, eu não prestei mais a atenção nisso. Eu tremia, a enfermeira me disse que era efeito da anestesia, mas eu sentia que era de nervoso mesmo. Tanto que, quando eu estava com a Júlia, eu esquecia que estava sendo costurada e não tremia.
Fui para a sala de recuperação, o Ricardo e a Júlia me acompanharam. Eu precisava ficar por duas horas em observação. Eu fiquei amamentando a Júlia nesse tempo. Trocaram a minha roupa e controlavam meus sinais vitais periodicamente. Também vestiram a Júlia. O Ricardo e a Júlia ficaram comigo durante todo o tempo em que fiquei em observação.
Pós-Parto – recuperação
Em uma hora e meia eu já sentia minhas pernas e fui encaminhada para o quarto. Eu poderia beber líquidos apenas às 3h30. Eu estava com fome. Comida seria apenas às 9h30 da manhã do dia seguinte. Deram-me três doses de soro com ocitocina.
O tempo voou nesse dia. Não vi o tempo passar. Não consegui dormir à noite. Fiquei ligadona e não podia sair da cama. Estava com um braço preso com acesso venoso e medicações como soro e ocitocina gotejando para dentro de mim. Além da sonda para recolher a urina e o corte da cesária.
O Ricardo foi pra casa dormir, já era mais de 01h. A mãe ficou comigo no hospital. Passamos a noite acordadas conversando e só depois descobri que eu não devia falar muito para não engolir ar e ter gases no pós-operatório. Mas tínhamos muito o que conversar. Quando chegou 3h30 eu quis beber água, pois eu já poderia começar a beber líquidos e a mãe foi ver com as enfermeiras. Durante a noite vieram medir meus sinais vitais e trocar meu soro, remédio pra dor e mais ocitocina. Me disseram que a ocitocina era para o útero voltar ao seu tamanho normal. Eu estava muito inchada.
A presença da minha mãe nesse momento foi muito importante. Ela chegou e organizou as malas no quarto em que fiquei internada. Cuidou de mim e da Júlia e não dormiu por 3 noites, tempo em que ficamos no hospital.
No outro dia pela manhã, vieram tirar a minha sonda e me levar para o banho. Estava com medo do meu corte. Eu não conseguia vê-lo, por causa da barriga inchada. A enfermeira colou um plástico na minha barriga, para não molhar durante o banho. Pediu pra eu urinar antes do banho, inicialmente eu não consegui. Só depois do banho que consegui. Nessa manhã também recebi visita dos meus sogros e cunhado. Meu pai e meu irmão moravam muito longe e deixaram para vir em momento mais propício.
Tive um sangramento bem intenso nesses três primeiros dias. Fiquei tonta duas vezes. Melhorava depois de comer. A comida do hospital era uma delícia.
Às 11 horas da manhã era o horário do banho dos bebês na maternidade. O mais novo papai Ricardo foi acompanhar o banho da Júlia, já que eu não poderia. Ricardo tinha retornado ao hospital pelas 8h. Júlia chorou muito no seu primeiro banho, eu escutava do quarto e tenho muita tristeza sobre isso. Ela tomou um banho de bacia, quase sem água dado por uma enfermeira. Explicaram-me que tentaram dar o primeiro banho no quarto com as mães, mas os quartos eram muito pequenos e não funcionou.
Lembrei que eu precisava amamentar a Júlia, que até então só dormia. A mãe colocava ela ao meu lado na cama para amamentar. Era muito gostoso.
Na segunda noite a Júlia começou a chorar muito. Levamos na enfermaria e a enfermeira falou que era fome e, se a gente quisesse, ela poderia dar fórmula para Júlia. Com medo de fazer minha filha passar fome, acabei aceitando: Júlia tomou fórmula em um copinho plástico de café. Se acalmou por pouco tempo e logo voltou a chorar. Na última noite aconteceu a mesma coisa e Júlia tomou mais um copinho de fórmula e também não parou de chorar, o que significava que não era fome. Na manhã seguinte, fui acompanhar o banho da Júlia com o Ricardo, eu já conseguia andar. Perguntei para uma enfermeira sobre a amamentação, que eu não sabia se estava produzindo o colostro, se minha filha estava passando fome. A jovem e querida enfermeira pediu para eu me sentar e mostrar o peito. Ela gentilmente pressionou e saiu muito colostro. Ela disse: “mãe, você está cheia de colostro! Não precisa dar fórmula para a sua filha”. Ricardo e eu ficamos muito felizes e aliviados.
A minha mãe estava muito cansada, sem dormir por todas aquelas noites, para eu conseguir dormir e me recuperar. Ela foi pra minha casa descansar. O Ricardo passou o dia comigo, até a médica ir me liberar. Esperávamos desde o meio dia a visita da médica para me dar alta do hospital. O pediatra já havia liberado a Júlia, faltava apenas eu. Ela chegou depois das 17h. Jantei no hospital e pegamos um pequeno engarrafamento para chegar em casa. Finalmente, 19h a Júlia chegava pela primeira vez em sua casa, seu lar. A minha mãe, agora vovó, não tinha descansado ainda naquela tarde, como havia combinado. Ela limpou a minha casa, assou bolo, fez um jantar e colocou uma música e fotos especiais para receber a netinha em seu lar. Entramos em casa, retornamos ao nosso lar com nossa filha nos braços ao som de música, fotos, e casa perfumada. Foi muito emocionante e acolhedor.